sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relatos de parto: Parto normal


Nome: Camila Gentili
23 de abril de 2008, Hospital NSL  3,8 kg, 52 cm
Ming Yuang era o nome que a chamávamos antes do parto, por não saber seu sexo...inventamos em uma brincadeira bem antes de ficarmos grávidos). Ela estava prevista para nascer lá pelo dia 10 de abril... Já estávamos aos 20 e pouco e nada. Normal. Podemos esperar mais duas semanas depois da data prevista. Eu me sentia um pouco cansada da gravidez, do peso da barriga especialmente, mas, não queria que aquele momento acabasse, não estava ansiosa. Passei os 9 meses me preparando para muitas coisas, mas, principalmente, para vencer um medo que até hoje não descobri direito de que era....(acho que é algo para pensar o resto da vida).
No fim de semana anterior ao nascimento de Ming Yuang, eu e o Cris nos concentramos em preparar-nos definitivamente para sua chegada. Arrumamos o bercinho, a mala para levar na maternidade etc. Falamos muito também com o bebê, convidando-o a sair lá do quentinho. Saimos a caminhar no parque Villa Lobos e até em um Shopping. Foi um dia inteiro andando para ver se algo acontecia. Afinal, já estávamos na semana 42.
As contrações ainda eram leves, como início de cólicas menstruais... Desde a semana 40, a cada mudança de lua, eu sentia que poderia ser a hora, como se a natureza estivesse agindo e, talvez, de alguma forma, meu "medo" impedindo...
Neste dia, a Dra A (nossa obstetra) ligou sugerindo que usássemos uma fitinha que libera um tal hormônio "progesterona", que estimula o útero a começar com as contrações. Já estávamos monitorando a cada dois dias com cardiotocos e ultrasonografias. Tudo estava perfeitamente normal, mas nada... resolvemos aceitar a sugestão da Dra.
O Cris foi trabalhar, eu fui almoçar na casa da Cleide, mãe da Tati (duas grandes amigas ).Queria estar com pessoas queridas e comer algo gostosinho e saudável. Comecei com uma homeopatia também neste dia.
Lá pelas 18h saímos de casa, pegamos um trânsito enorrrrrrrme para chegar ao hospital.Até paramos em uma padaria e tomamos um mega lanche...Meu pai estava no hospital nos esperando. Fizemos a internação. Fomos para o quarto. Umas 22hs uma enfermeira veio com a fitinha. 3 horas depois as contrações já estavam frequentes e intensas. A dor de uma contração é como uma cólica forte, aliada a uma dor nas costas (na regiao da lombar, nos rins). Cada vez ela vinha mais forte e de menos em menos tempo. Fui para o chuveiro. Sabia que agora sim estava começando. Me sentia preparada, protegida, amparada... Ligamos para a doula, que chegou em 1h
Um desconfortável exame de toque me "estuprou" e nos deu a informação de que minha dilatação estava em quase 5 cm. Nossa! Eu estava mesmo em trabalho de parto.... Quando a doula chegou, trouxe com ela uma das minhas principais aliadas daquela noite: uma bola!
Sentei na bola e recebi massagens. Fui com a bola pro chuveiro e causei o primeiro alagamento no hospital. A bola tampava o ralo do banheiro, mas eu me sentia tão bem lá que queria mais é que tudo se alagasse mesmo!!!!
Descemos então para o centro obstétrico. Minha dilatação estava em 5 ou 6 cm. A enfermeira queria de todos os jeitos que eu descesse de cadeira de rodas. Mas, ignorei e entrei de pé no elevador. Quando as contrações vinham eu parava, respirava e esperava passar. Já estava doendo MESMO!
Chegando lá em baixo, vi que era um quarto exatamente igual ao de cima, apenas um pouco maior, eu acho. Me enfiei no chuveiro enquanto o Cris e a doula resolviam como e onde montar a banheira. O Cris teimou que queria a enfiar no banheiro, não a encheu completamente, fez tudo do jeito que achou melhor, mas, no fim, aquela banheira murcha naquele banheiro apertado cujo chuveiro só jorrava água pelando, foi o último lugar que quis ficar. Me sentia com claustrofobia. Lugar pequeno e quente.... (a idéia de parto na água tinha dançado!!) Eu precisava de companhia e de um espaço amplo e muito ventilado.Muito calor e sede!!! Lembro-me que adorava beber e jogar água gelada na minha cara.
Aguentar as dores exigia concentração e determinação absurdas. Eu tendia a me contrair durante elas e isto as tornavam piores. Não conseguia olhar ninguém nos olhos, a não ser o Cris que fazia de tudo para me convencer que quanto mais eu relaxasse, mais fácil seria. Realmente quando eu relaxava durante uma contração, ela passava bem mais rápida e era mais leve. Mas não é tão simples assim, chega uma hora em que você já está totalmente desesperada e cansada.
Foi importantíssimo esse momento com o Cris. Ele acabou sendo meu principal parteiro. Também foi importante ter quem segurar a mão. Precisava segurar a mão de alguém o tempo todo. Senti vontade de morder, apertar, gritar,.... sentia que a hora estava chegando. Me sentia exausta e aterrorizada.
Eu estava com raiva das outras pessoas. Fiquei incomodada com a Dra A falando no celular. Me incomodei também com todo mundo que ficava me elogiando e incentivando...não achava que estava indo bem... estava doendo para caramba... e meu medo só se intensificando!
Nesse ponto eu já estava tão desesperada que comecei a pedir por anestesia. Disse firmemente que não aguentava mais e que precisava de ajuda. Alguém falou em buscopan na veia... eu toparia receber qualquer ajuda.
Todas saíram da sala. Ficamos eu e o Cris. A bolsa estourou pouco antes disso. Líquido clarinho.... sensação gostosa, como se tivesse mesmo uma bexiga cheia dentro de mim, que estourou na hora em que eu sentei na cama.
Depois de um tempo as meninas (a Dra A , a doula e a M) voltaram. Apareceram com uma homeopatia. A Dra A me pediu para examinar.... subi na cama... a dilatação estava quase completa, mas depois soube que o bebê estava bem alto ainda.
Comecei a sentir vontade de empurrar. Que medo tão grande sentia. Neste momento, era uma mistura de cansaço, medo, força, de tudo... Queria ficar de pé, mas não tinha força na perna.
Me pendurei no pescoço do Cris, agarrei a mão da doula e da M Sentia uma ardência grande na vagina. Queimava o anel de fogo. Eu estava meio de cócoras na cadeirinha, meio em diagonal (pois era baixa pra mim) O bebê desceu rapidamente e agora não tinha como parar, ela queria muito nascer e tenho certeza que me ajudou muito. Fazia força entre as contrações. Seguia as intruções que ouvia. Vi pelo espelhinho (depois de muita insistência, pois tinha aflição de olhar) a cabecinha dela. Que espaço tão pequeno tinha para passar....
Gritos eram inevitáveis. Fazia força, mas elas acabavam em gritos. Dois gritos seguidos de enfrentamento do medo. Gritava como um bicho!!! Não lembro como, mas senti o bebê chegando, a cabeça me queimando e logo o resto do corpo me aliviando. Que sensação deliciosa e inesquecível. Me entregaram então o bebê. Eu tinha tanta certeza que era um menino que confundi o cordão com um possível pintinho.... mas logo vi que era uma menina!!! UAAAAAAAAAU que alegria....
Que sensação tão mágica segurar aquele bebezinho. O Cris começou a falar seu nome: LIZ LIZ LIZ BEM VINDA LIZ. Pedi para chamarem minha mãe, que entrou e quase caiu sentada (não sabia se ria, chorava, fotografava....parecia que estava até com medo de chegar perto) Enfim, os dois encantados! Avó e papai...
Minha filhinha no meus braços! Eu também estava totalmente hipnotizada. Só queria cheirá-la, beijá-la... Nossa...Ela estava com os olhos bem abertos, arregalados e me observando também. Logo deu umas lambidinhas no meu peito. Ela estava em paz. Tudo estava em paz. Que sensação tão perfeita!

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